A Ruptura
A 1ª fase foi marcada pela relação umbilical entre o promotor e o artista plástico.
A vivência de mais de uma década fiscalizando as crises da antiga FEBEM e a lida diária com nossos jovens de periferia, seus dramas, a exclusão social, a falta de políticas públicas primárias, o choro de suas mães, a violência, precisavam ser exorcizadas. O caminho mais natural seria que o profissional do Direito o fizesse através das palavras. Mas o artista plástico falou mais alto e a linguagem universal das imagens se impôs, para um registro daquela realidade vivenciada intensamente e não meramente apropriada. Dessa relação dual, surgiram as duas primeiras exposições individuais. A primeira delas, “NINGUÉM NASCE BANDIDO”, com a curadoria da Profª Carmem Aranha, em que se focava, especialmente, a situação do adolescente em conflito com a lei. Mas aquela narrativa não estava encerrada. Pulsava a necessidade de externar e registrar outras vivências e outros dramas de exclusão que afligem a nossa infância e adolescência. Não era uma preocupação meramente com a gasta “arte engajada” ou simples denuncismo social sem relação com a própria realidade do autor. Mais uma vez, urgia contar outras facetas daquelas experiências vividas. Construiu-se, assim, a segunda individual, de 2007, “PERSPECTIVAS : RECORTES DE UM ADOLESCER”, com a curadoria de Oscar D’Ambrosio. Ampliava-se a questão da violência e os adolescentes com ela envolvidos, para o trabalho e prostituição infantil, dependência química, abandono e todas as outras mazelas que envolvem a falta de olhar do estado e da “sociedade esclarecida” para o “futuro do Brasil”.
Ao fim deste segundo capítulo, sentia que o registro estava feito e a angústia vivenciada um pouco externada. A dualidade do promotor e artista com o peso do mesmo tema forçava a quebra radical de seus paradigmas. Feito o registro da dor, o caos e os tempos apocalípticos de tsunamis, terremotos, chacinas e desgraças coletivas clamavam por um alívio criativo. Não poderia ser uma ruptura qualquer, mas visceral. Sentia a necessidade quase física de voltar às cores primárias, ao volume e à manipulação das tintas. Por que não voltarmos à beleza, se as janelas e grandes televisões já nos mostram o caos?
A pulsão expressionista, sempre motivadora da minha criação, queria resgatar a vibração colorida do início. Mas, qual a nova motivação, a nova temática? Como ensinava o mestre Picasso, o tema é só uma desculpa. E qual é o tema, desde os registros rupestres, que transitou por todas as escolas artísticas? A natureza morta. Mas eu não queria falar mais de morte, e a beleza e as cores levaram-me ao caminho natural das flores. Será que seria possível, em um “tema tão banal”, imprimir esta nova vontade, o volume e as cores, e uma individualização que registrasse minha digital, sem que ela fosse confundida com outros artistas que transitam pelo mesmo tema? Construiu-se, assim, o caminho para a individual de 2009 “PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES”, sob orientação do meu mestre Ingres Speltri. Sabia que os questionamentos viriam, sobre como se abandonava a atualidade, a contemporaneidade anterior e se retroagia aos fins do século XIX e início do XX, aos fauvismos, expressionismos e outros “ismos”, que hoje se perdem no milênio anterior. É certo, houve uma angústia que foi superada pelas reminiscências das dores dos partos cerebrinos das duas individuais anteriores. Esta é a fase atual e não me culpo mais por buscar o registro de um pouco de beleza e alegria, sem o compromisso anterior. Os tempos atuais são ásperos e pesados. Talvez, para atravessá-los, como já disse o “poetinha”, beleza é fundamental..
Wilson Tafner
|
top
|

|
|