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Texto de Carmen Aranha – Professora Associada do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo – MAC/USP, sobre a exposição “Ninguém Nasce Bandido” ( da qual foi Curadora):

Wilson Tafner nasceu em 1967, na cidade de São Paulo. Em 1989 concluiu o Curso de Direito pela Universidade de São Paulo. O ano de 2000 marca a decisão de dedicar-se à produção artística e cultural. A partir de então, começa a construir sua linguagem plástica, na qual confluem as questões da pintura e as várias dimensões temáticas de seu trabalho como Promotor de Justiça da Infância e Juventude.
O artista está apresentando a exposição “Ninguém Nasce Bandido”, na Casa Galeria, a partir de 26 de abril de 2005.
Depósito, Enjaulado, Patada, Tranca, Ninguém nasce bandido, Queimado e Couro colocam-se como momentos do pensamento de seu criador e definem sua trajetória artística iniciada há cinco anos. São diferentes intenções ligadas por um fio condutor que é a sua própria vivência nos últimos anos com os adolescentes e jovens internos na FEBEM/SP.
Os trabalhos formam uma unidade estética situada entre aspectos expressivos e construtivos, aliados a um vigor imagético com intensas referências culturais, nas quais o artista não se furta de fazer um recorte pictórico da dramática realidade social brasileira.
Os títulos das obras também indicam os passos vivenciados por Tafner naquela realidade. Depósito - um redemoinho de faces, sem formas corpóreas definidas e ao mesmo tempo iluminadas por olhos que parecem fixar o terror desse anonimato. Em Enjaulado, o plano construtivo faz recuar para o interior do espaço compositivo um ser que se protege, velado pela atmosfera criada. Em Tranca, uma luz intensa e dourada vinda da janela encantoada derrama-se sobre a figura humana; já a forma diagonal introduz, no espaço da tela, a força física de Patada. Ninguém nasce bandido prenuncia Queimado - nos espaços segregados das telas, ali, mais adiante, alhures talvez, desvelamos toda a dimensão da tortura a que essa juventude é submetida. O ponto final é dado por Couro, obra repleta de metáforas - sulcos marcam o couro, o corpo; pregos enferrujados e sutis sombras de contenção projetam-se na superfície. Por fim, a madeira é o suporte do tronco de uma escravidão que, desde há muito, deveria ter sido abolida.
No seu conjunto, essa visualidade estética, clara e atual, traz à superfície a essência do panorama vivido na dura realidade de um promotor público e faz de Wilson Tafner uma promessa da arte contemporânea brasileira.

Carmen S. G. Aranha
Curadora


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Texto de Oscar D’Ambrosio, jornalista e mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp, integra a Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA- Seção Brasil).

Perspectivas: recortes de um adolescer

O branco e preto e o ocre dão o tom da exposição Perspectivas: recortes de um adolescer, do artista plástico Wilson Tafner. Estão ali desenhos em carvão e objetos que se integram não só pelo tema da infância perdida e da violência urbana. Eles também estabelecem um ambiente que discute a violação de direitos fundamentais e a marginalização de jovens e adolescentes
Embora o assunto seja de gravidade inegável, não pode – nem deve – se sobrepor ao trabalho de Tafner. O desafio do artista é o de motivar a observação atenta de suas criações para refletir sobre uma dramática questão social, que leva a ter uma geração perdida.
Os desenhos em carvão funcionam como uma síntese do conjunto. Há uma mãe pobre, provavelmente chefe de uma família desestruturada, com uma criança desfalecida para a qual há dois grandes caminhos possíveis: a infância idealizada, com pipas, futebol e bolinhas de gude; ou a realidade do tráfico de drogas, da prostituição do subemprego ou da marginalidade.
As jornadas estão presentes na instalação que convida o público a participar de uma escolha ao oferecer a opção de construir um muro com nomes de jovens excluídos ou de escrever uma mensagem numa lousa. Estão aí as perspectivas da sociedade brasileira: o muro da prisão ou da escola; as primeiras letras da educação ou as grades.
Corpos modelados no chão, na posição conhecida como “Valete” entre os jovens infratores, sempre deitados do lado oposto a quem está ao seu lado, de modo que cabeças e pés se alternam no solo, reforçam a atmosfera opressiva. Eles têm visões diferentes, embora limitadas pelo ambiente, cercado por notícias de jornais sobre atos de violência cometidos dentro da Febem.
Aliás, distintas jornadas existenciais são também sugeridas por uma espécie de roda da fortuna, objeto de parede em que numerosos elementos indicam diversas possibilidades do trabalho infantil, assunto expresso ainda em trabalhos em carvão que enfocam prostituição infantil, mendicância e uso drogas, entre outras possibilidades existenciais.
O relevo com a barriga de uma mulher grávida aprisionada numa gaiola, o prato luxuoso que oferece a refeição de uma lata de cola de sapateiro com pedras de crack e fotos realizadas por Tafner de jovens marcados pela violência ou felizes por receber refeições colocadas sobre um suporte de madeira atrás de uma grade completam a exposição.
O conjunto impressiona pelo seu valor plástico e por estar repleto de vivência do tema. O artista não é mais um criador que se debruça com um olhar complacente e assistencialista sobre a exclusão social. Pelo contrário, ele pratica a arte a partir do que vivencia e conhece.
Promotor de Justiça da Infância e da Juventude, ele enfocou o tema da violência contra os jovens na exposição Ninguém nasce bandido, de 2005, na própria Casa Galeria, com curadoria de Carmen Aranha. A sua perspectiva, desde então, é discutir se pode haver um sentimento de esperança na realidade que ele conhece tão bem.
Se uma perspectiva é, nas artes visuais, uma técnica de representação tridimensional que dá ilusão de espessura e profundidade, também é a chance de discutir a falta de oportunidade para pessoas sem passado, presente ou futuro, que, em sua maioria, caminham para engordar os números nacionais de marginalidade e violência.
Nesse aspecto, a exposição se ergue como um ato de protesto plasticamente construído e um alerta visualmente imponente. Choca na sua denúncia e interroga em sua temática. Trata das crianças que o país perde e dá um passo importante para que, cada vez mais, Wilson Tafner seja um artista que atua como Promotor – e não o inverso.

Oscar D’Ambrosio
Critico de Arte, Curador e Jornalista


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Texto de Ingres Speltri - Artista Plástico e Professor da
Escola Panamericana de Arte

Nasce Um Artista

É gratificante ver o nascer de um verdadeiro artista.
Posso dizer com pompa e circunstancia que vi os primeiros passos desse verdadeiro artista quando ainda questionava conceitos e técnicas que hoje domina com perfeição e habilidade, colocando o gesto e a cor onde realmente deveriam estar : nem um pouco a mais e nem um pouco a menos.
Gratificante ainda é constatar que as tendências que surgiam em seus primeiros exercícios, eram seguramente sementes poderosas que germinaram. Essa coerência é determinante nos grandes artistas, onde nunca precisou correr atrás de estilo, linguagem, conceito, conteúdo, porque tudo isso estava presente em forma latente em sua semente embrionária. Foi só esperar o tempo certo de maturação.
É gratificante ver nascer um artista com a coragem e a bravura de um D.Quixote nesse deserto estéril da contemporaneidade, onde não existe mais o objeto arte mas apenas a intenção arte.
Podem estar certos esses aventureiros de plantão, embora muito bem intencionados, que é mais fácil não fazer nada e inventar teorias do que fazer coisas que dispensam comentários e manual de instruções.
Lembrando Darwin, que está recebendo comemorações neste atual momento, que as espécies se escolhem, se juntam e procriam tendo uma seleção baseada na estética, simetria, força, conteúdo, e beleza. Portanto, a beleza, que não é considerada nos conceitos da contemporaneidade, está contida no cerne da humanidade. Não adianta
contestá-la. Assim essa avalanche de novas teorias e conceitos que tentam confundir como uma cortina de fumaça, embaçando a era contemporânea, matando a pintura, surge um paladino que se coloca como uma muralha, enfrentando essa corrente tendo como armas sua pintura com força, beleza, conteúdo Universal, cromatismo, etc.,
juntando tudo isso em uma comunicação direta, agradável, coerente, segura, sem discurso, nem palavras.
Não adianta os historiadores, críticos e teóricos, que já erraram uma vez repudiando Van Gogh, Cézanne, e Gauguim, que foram os pilares da arte contemporânea, pretenderem fazer a apologia do caos , a desordem, o mundo
sucatado, que sabemos que existe, mas não fazer destes componentes o “modus-operandi” obrigatório e preponderante da atualidade.
Não vou estar vivo para comprovar que esses pretensos donos da opinião pública erraram mais uma vez, porque a Humanidade gosta de conviver e consumir a beleza .
Portanto é gratificante ver em que momento histórico surge Wilson Tafner, que não deixou se contaminar pela “contemporaneidade”.
Esse grande pintor, hoje seguro e maduro, sempre cultivou a semente do expressionismo, com uma linguagem cromática forte, expressiva se igualando aos mestres do gênero e logicamente que seu cromatismo forte e exuberante, com cores primarias, alegres e contagiantes o aproxima também dos fauvistas, cujos dois gêneros estão historicamente conectados.
Vi Wilson Tafner nascer como artista e hoje aplaudo sua consagração.
Parabéns, meu colega!

Ingres Speltri
São Paulo, 24 março de 2009.
www.speltri.com



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Autores
Carmen S. G. Aranha
2005

Oscar D'Ambrosio
2007

Ingres Speltri
2009


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